A partir da origem destas três palavras, episteme, estética e sindemia, gostaria de refletir sobre a estética musical.
Episteme na filosofia grega significa o conhecimento verdadeiro, de natureza científica, em oposição à opinião infundada ou irrefletida, a doxa. A etimologia desta palavra tem sua origem no grego dóksa. É a reunião dos pontos de vista que uma determinada sociedade elabora numa dada circunstância histórica, julgando ser uma ação evidente, contudo para a filosofia, isso seria uma crença sem comprovação.
A palavra “estética” também tem origem no grego, aisthésis, de percepção e sensação. A estética é um ramo da filosofia que pensa sobre a arte. A estética musical, por sua vez, é o ramo da estética que analisa a música e seus aspectos, pensa na música enquanto identidade, pensa no artista, na forma como ele se apresenta, no figurino, nos timbres que são utilizados, na mensagem a ser transmitida, no texto.
O termo sindemia combina duas palavras: sinergia e pandemia. A sindemia caracteriza a interação mutuamente agravante entre problemas de saúde em populações em seu contexto social e econômico.
No período pandêmico do novo coronavírus que nos encontramos, declarado como tal pela Organização Mundial da Saúde em onze de março de dois mil e vinte, muitas pessoas se viram em situação de enfrentamento particular, cada um no seu mundo e seus desafios: Readaptações de rotinas, isolamento social e quarentena tornaram-se essencial no dia a dia das pessoas. Os ambientes de transmissão e recepção da música têm sido mudados por conta desse novo momento. No palco / altar, os instrumentistas transmitem sua mensagem mascarados, e em alguns casos, atrás de redomas de acrílico. Os cantores mantêm certa distância e determinados grupos cantam com máscara e outros sem. Os regentes para manter a dinâmica de produção com os coralistas utilizam os ensaios virtuais assim como a gravação das peças. O público, todos igualmente de máscaras e mantendo uma distância adequada, participam dos ambientes em que a música é usada como linguagem.
Platão, em República, nos diz que a música tem poder na alma, e por isso, deve ser regulada pelo governo na sua sociedade perfeita. Outro exemplo é encontrado na filosofia de seu discípulo, Aristóteles, que menciona o efeito dos modos musicais nas índoles das pessoas.
A possibilidade da existência de uma semântica musical, constitui tema no pensamento ocidental, desde a Antigüidade clássica. A pesquisa por uma semântica cognitiva da experiência musical pressupõe a pergunta inicial pela natureza da experiência do som, por meio da qual experimentamos a música.
Esta leitura musical social na sindêmica, trouxe com ela nova episteme estética ressoando uma velha ordem, seres independentes sendo codependentes assim como as notas musicais.