:: EDIÇÃO 17 :: Estética Musical

O PULSO E SUAS CONEXÕES

Quando estudamos música, um dos conceitos importantes a ser desenvolvido na percepção musical é o ritmo. Segundo Bohumil Med, ritmo é a ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a melodia e a harmonia; organização do tempo segundo a periodicidade dos sons; alternância de durações. Já Bruno Kiefer traz o conceito grego rhythmos que designa aquilo que flui, aquilo que se move. Mas segundo ele não é só isto, a esta palavra vem associada outra idéia, a de medida.

Então, num primeiro momento estudamos o ritmo para entendermos a ideia da medida do tempo na música. Utilizando um instrumento chamado metrônomo que, marca um ritmo em diferentes velocidades, começa-se a entender a organização dos movimentos e do silêncio ao longo tempo, que pode variar em duração e dinâmica. Com a experiência do estudo do ritmo vem a habilidade de entender outro conceito, o pulso, que é um ritmo de tempos iguais que se caracteriza pela constância e repetição.

O conceito atual do pulso permanece alinhado a sua definição clássica, mas com adaptações as práticas musicais contemporâneas. Muitas vezes ele é entendido não como algo audível diretamente, mas como uma pulsação sentida, que orienta músicos e ouvintes na experiência musical. Sua aplicabilidade é ampla, incluindo interpretações em diferentes contextos, como na música popular e em composições modernas ou experimentais, onde pode ser obscurecido ou ausente, desafiando a percepção do ouvinte.

Cada música em seu determinado estilo musical, tem o seu pulso assim como cada um de nós em nossos ambientes sociais e em nós mesmos. Lançando um outro olhar frente as relações sociais, a relação entre pulso musical e as relações sociais pode ser explorada metaforicamente, pois ambos envolvem a noção de ritmo, organização e interação coordenada.

Trago o exemplo de uma orquestra. Esta, composta por músicos, cada qual com seu pulso, ao interpretarem uma peça, todos precisam pulsar com um mesmo pulso para que a peça musical seja executada. O pulso musical estabelece uma base regular e constante, permitindo que os músicos sincronizem suas execuções. Nas relações sociais, há uma necessidade de sincronia e coordenação para que interações fluam, como em conversas, colaborações em equipe ou atividades comunitárias. 

Um outro exemplo seria a dança. Pensemos como ritmo compartilhado. Como o pulso cria uma base comum na música, nas relações sociais há “ritmos” cultuais ou comportamentais que todos seguem para se integrar. Na dança em grupo como no forró ou o samba, exige que as pessoas sigam o mesmo ritmo, representando um alinhamento entre o pulso musical e a interação social.

Como indivíduo, acredito ser importante desenvolver a percepção do meu próprio pulso mas também estar aberto a experimentar o pulso do outro. Quando estou, como instrumentista, interpretando uma peça musical, preciso entender o pulso da peça para que a música aconteça, flua. 

O pulso musical e as relações sociais têm em comum a capacidade de criar unidade na adversidade. Ambos dependem de sincronia, flexibilidade, empatia para funcionarem fluidos, harmoniosos. 

Seja na música ou na vida, a convivência consigo e com o outro é essencial para conexões. 

Referências:
Med, Bohumil – Teoria da Música / Bohumil Med – 5. Ed. – Vade Mecum de teoria musical – Brasília, DF: Musimed, 1996.
Kiefer, Bruno – Elementos da Linguagem Musical / Bruno Kiefer – 2. Ed. – Introdução de Érico Veríssimo, Porto Alegre, Movimento/Brasília/Instituto Nacional do Livro – MEC, 1973.



Portella
47 anos de vida e Fé cristã. Mestre em Educação. Pós-graduado em Aperfeiçoamento de Docência com Psicopedagogia. Licenciatura Plena em música. Bacharel em Composição. Bacharel em Gestão e Administração Eclesiástica e Música Sacra.
https://modal.asaphministerios.com/equipe/portella

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