Historicamente, a língua e a linguagem têm sido preocupação em todos os tempos e de muitos campos do conhecimento. Como Vygotsky ressalta, a relação do homem com o mundo é mediada por sistemas simbólicos, sendo a linguagem talvez o principal deles.
O modo como o conhecimento é construído, seja em qualquer área de atuação, perpassa pelos mecanismos da linguagem, e esta é um valiosíssimo instrumento de poder, de agência e de engajamento.
Ao interagir com os outros, o ser humano se revela pela linguagem que utiliza, e esta reflete as suas crenças, os seus ideais, a sua história e a sua vivência de mundo. O linguista Hjelmslev destaca que não há teoria do conhecimento, objetiva e definitiva, sem o recurso aos fatos da língua. E os fatos da língua nos levaram aos fatos do pensamento.
Entretanto, as mudanças na linguagem do tempo presente têm causado desconforto a muitos intelectuais, que se prendem demasiadamente ao padrão normativo da linguagem culta, e em seu preconceito linguístico, desdenham de formas de linguagem que fogem, por diversos motivos, à norma padrão da língua. Não estou refutando aqui o valor dessa norma, nem negando sua importância. Mas ela não é, e nem pode ser, a única forma valorizada de se expressar através da linguagem.
O cérebro, na teoria Vygotskiana, é um sistema aberto a mudanças e dinâmico que é reconstruído a partir das redes de significados tecidos ao longo da história da espécie humana e do desenvolvimento individual simultaneamente. E a linguagem, por consequência, é onde esse rio deságua, externando toda essa mudança e desenvolvimento individual na coletividade. É através da linguagem que se demarca identidade e pertencimento. É com ela que se transmite o que se pensa, o que se acredita, não só no conteúdo, mas também na forma.
A reflexão que devemos todos fazer é se desvalorizamos algumas formas de comunicação com a linguagem e valorizamos outras, isso acontece por causa da falta de conteúdo que tais expressões possam ter, ou pelo nível de prestígio social que elas têm?