No último texto a ideia foi levantar uma percepção de alguns contornos que envolvem a constituição do campo das Ciências Humanas, mais especificamente da História. Tomamos a ideia de uma operação historiográfica que é realizada no seio de um lugar social, não exatamente um local físico, apesar de também compô-lo, mas um modo de dizer e operar ideias que se faz nas relações, nas convenções e creditações.
Hoje o ponto a ser levantado, brevemente, caminha pela mesma direção, mas pensando especificamente na operação de construção do conhecimento histórico a partir dos vestígios deixados no tempo histórico. Geralmente se tem a visão de que a história se propõe ao estudo das ações humanas do passado, o que já foi alvo de revisão pelos “lugares” que selecionam objetos do chamado tempo presente1O que seria o presente? Seria o passado recente? Objeto de diferentes discussões…, apesar de contínuas objeções e questionamentos sobre qual seria o melhor momento para ter um distanciamento que não seja comprometedor na relação objeto e investigador.
A discussão sobre a possibilidade do conhecimento do passado ou do presente é deveras antiga, literalmente esteve entre os filósofos e historiadores antigos, como se pode perceber nos escritos de Heródoto e Tucídides. Mas não indo muito distante, o que se tem de consenso desde a organização desse campo como disciplina científica no século XIX é de que a possibilidade de uma investigação séria das ações humanas2Ações que também foram e são objetos de uma historicidade: Quais humanos devemos nos ater? Os grandes personagens? A massa? A política? A economia? A cultura? no tempo e no espaço passa pela busca e embasamento em fundamentos, mais especificamente em fontes, isto é, vestígios que permitem uma interpretação e narrativa.
A partir do início do séc. XX, na França, um grupo de historiadores questionou o lugar social da época no que diz respeito ao fazer história apenas através de documentos oficiais de Estado. Os pertencentes à chamada École des Annales deram o ponta pé para a ampliação do uso de diferentes tipos de fontes e objetos de investigação histórica. Chamaram a atenção para a necessidade da interdisciplinaridade com outros campos do conhecimento se o objetivo era dar conta das novas temáticas de pesquisa, limitadas a uma história política dos grandes personagens e relações entre Estados.
A troca entre os campos permitiu e ainda permite construções investigativas. As contribuições da Antropologia, Sociologia, da Arqueologia, da Psicologia, Psicanálise e de outros campos levaram à revisão das tradicionais leituras das fontes históricas e ao preenchimento gradual dos espaços vazios em relação às histórias não narradas.3Problemática eurocêntrica da desconsideração das histórias, da definição de um padrão ocidental de humanidade e organização social. É o que se percebe, por exemplo, em relação aos diferentes povos que não utilizaram (ou não utilizam) a escrita nas suas organizações sociais, a partir da observação dos vestígios materiais e imateriais, como as narrativas de geração em geração, e das problematizações dos padrões organizacionais e sociais.
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O que seria o presente? Seria o passado recente? Objeto de diferentes discussões...
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Ações que também foram e são objetos de uma historicidade: Quais humanos devemos nos ater? Os grandes personagens? A massa? A política? A economia? A cultura?
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Problemática eurocêntrica da desconsideração das histórias, da definição de um padrão ocidental de humanidade e organização social.
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