:: Edição 007 :: Literatura e Linguística

PENSAMENTOS SOBRE A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E A INTERPRETAÇÃO / USO DO TEXTO SAGRADO

Ainda é comum o estudo e o ensino da literatura que revolve em torno do entendimento da vida do autor, onde são apresentados dados biográficos dos escritores, privilegiando assim os movimentos literários e o contexto histórico das obras, mesmo que para isso a leitura em si seja reduzida a pequenos fragmentos das obras.

A maior consequência desse método de estudo compartimentado, e muitas vezes com fins a concursos de vestibular, é que a ausência de leituras de textos maiores e do contato com os valores estéticos da obra provavelmente não levam a cativar o interesse de possíveis futuros leitores. Ela não ajuda a formar o hábito da leitura.

Se pensarmos sobre o ensino e a leitura de textos sagrados, há ainda mais questões a se discutir. Já sabemos que a leitura do mesmo texto por diversos momentos históricos ocasiona a extração de novos significados. Entretanto, os textos sagrados têm atravessado gerações em muitos e muito diferentes contextos históricos, gerando relações dialógicas bem diferentes com diferentes leitores. As grandes obras têm mesmo essa capacidade de provocar o leitor de todas as épocas e permitir diferentes leituras.

A Bíblia nos permite, como leitores, a abrir a mente e o coração para um novo universo, onde nos associamos, nos percebemos e nos encaixamos naquele universo como se nós mesmos fôssemos participantes daquela antiga história. E é justamente aí que mora a riqueza da experiência: a identificação do leitor com o texto, possibilitado apenas por esse encontro.

Parece-me inegável que a providência divina não pudesse prever que essa identificação ocorreria e seria passada adiante para as futuras gerações através da linguagem, e mais especificamente pelo texto escrito. Na minha visão, Ele “viu que isso era bom”, e escolheu esse método para se fazer conhecido à humanidade: o discurso.

Talvez por isso Ele tenha se identificado como logos, a Palavra de Deus, o discurso de Deus, o plano de ação de Deus para a humanidade, encarnado em forma humana na plenitude dos tempos. 

E se encaramos como um problema o fato de que um significante não tem apenas um significado (como diriam os dicionários mais tradicionais), deveríamos nos contentar com o fato de que a linguagem é tudo que temos. À medida que lemos o texto, e o texto nos lê, nos transforma, nos direciona, vamos nos tornando cada vez mais parecidos com ele, e a contextualização vai ficando cada vez mais possível. Somos muitos, muito diversos, e temos muitas leituras, e muito diversas, mas esse espaço para dança nos permite crescer e aprender a dançar!

E à medida que dançamos, para continuar com a metáfora, somos cada vez mais sincronizados, com o ritmo e também uns com os outros. A grande beleza desse nosso encontro com o texto é o que ele desperta em nós, os lugares aos quais ele nos leva, as lembranças que ele em nós desperta. E à medida em que somos transformados por Ele à sua imagem, mais semelhante nossa leitura será a de outros homens que têm a mesma experiência.

Referências

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
COSTA, Márcia Hávila Mocci da Silva. Estética da Recepção e Teoria do Efeito. Disponível em: <link direto>. Acesso em 04 jun. 2022.




Felipe Aguiar
34 anos de idade, 28 de Fé Cristã. Mestre em Letras – Linguística. Bacharel em Letras – Inglês / Literaturas. Licenciatura em Letras – Português / Inglês. Graduado em Gravação e Produção Fonográfica. Técnico em Processamento de Dados. Livros Publicados: 2015 – “Coração Poeta: Pequenas doses de poesia para pensar na vida”. 2013 – “Trazendo à Terra as Canções do Céu”.

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