No último texto tivemos a oportunidade de pensar um pouco sobre a origem e utilização dos termos Chronos e Kairós do ponto de vista histórico. Terminamos nos arriscando a dizer que uma maneira dos indivíduos e coletividades manifestarem uma relação de contraponto e ressignificação do tempo objetivo é o mecanismo da memória. Utilizou-se como referências conceituais as divisões de Halbwachs sobre memória autobiográfica e memória coletiva/histórica. Tomou-se como compreensão a relação entre lembrança-esquecimento, retomada-apagamento, construção-reconstrução, morte-vivificação do passado e do presente.
O que essas noções de tempo e a relação com a memória podem contribuir como um ingrediente de reflexão e do dizer sobre os nossos tempos atuais? Tempo, nesse caso, da nossa existência, que se nomeia como um presente e está cada vez mais querendo se divorciar do passado nas configurações sociais, tecnologias, desafios, etc. É o que se percebe no discurso do mundo novo, que se diz totalmente integrado, quase que dentro da ideia do “Fim da História e o Último Homem” de Francis Fukuyama”1 Fruto de uma percepção do autor com o seu tempo, na queda do Muro de Berlim e fim da Guerra Fria no final do séc. XX. . Seria a memória uma maneira kairótica de significar e ressignificar o presentismo que devora os seus filhos (antecedentes) como Cronos, tentando afastar a sua relação com o passado?
Essas perguntas até que podem fazer algum sentido dependendo das diferentes dimensões e problemáticas da vida individual e das identidades coletivas. Nas memórias individual e histórica se faz perceptível a relação de lembrança e esquecimento. É no presente de cada tempo histórico que os indivíduos-memória e grupos-memória executam essa relação, desafiando uma linearidade cronológica, uma ideia de progressividade fadada a um único sentido, quando colocam em ação um ir e voltar, um sintetizar, desconstruir, inovar a depender de cada situação.
Seria então isso dizer que dentro de um tempo há o desafio ao próprio tempo com ações e discursos que mobilizam suas próprias noções e relações com o tempo e como esses grupos e indivíduos enxergam suas ações no tempo? Nessas perguntas se move o conflito dos tempos.