No contexto do pensamento sociológico, pensar nas dimensões do tempo e do espaço significa pensar nos vínculos que construímos a partir deles. Cada vez mais o saber sociológico tem caminhado para uma concepção que procura entender a sociedade enquanto um elemento plural, dinâmico e em constante movimento, constituído de mais do que a mera soma de indivíduos isolados que ocasionalmente entram em contato.
Desde os primeiros esforços na direção da institucionalização do pensamento sociológico as interlocuções entre tempo, espaço e socialização já eram temas centrais para a sociologia. A preocupação de Durkheim com a erosão, advinda das novas dinâmicas sociais inauguradas com a modernidade industrial, da capacidade que espaços como a igreja e a família tinham de gerar coesão entre os indivíduos, assim como a análise de Simel a respeito dos novos mecanismos sociais e psíquicos que os indivíduos construíam para lidar com os novos estímulos, demandas e informações que as cidades modernas inauguravam, bem como a construção de novas subjetividades que acarretavam, são bons exemplos disso.
Já na segunda metade do século XX, Elias (2008), ao analisar o conceito de indivíduo de um modo mais aprofundado, também observa que, embora este apareça, caso pensado superficialmente, enquanto um ser que se automodifica e que existe isolado em si mesmo, é muito mais adequado dizer que uma pessoa está sempre em movimento. Ela não vive um processo, ela é um processo. Latour (2015), por sua vez, concebe que os próprios atores sociais são, em si, redes de interrelações. O importante para ele passa ser pensar aquilo que faz fazer, o que faz agir. Ele direciona sua atenção para os vínculos e suas afetações. Nesse ponto objetos, bens, técnicas, artefatos da cultura, todos se tornam centrais e também percebidos como dotados de ação e capazes de mobilizar esses vínculos e serem por eles mobilizados.
A sociologia que nasce da postura teórica se interessa pela pluralidade daquilo que mobiliza. Ela atravessa espaços nos quais as movimentações dependem da natureza dos vínculos e da capacidade de estes fazerem ou não existir os sujeitos que lhes são vinculados. Esta perspectiva busca ressaltar aqueles elementos que a sociologia convencional teria deixado de lado. Nas palavras de Latour: “As fontes mesmo de vinculamento, a formidável proliferação dos objetos, dos bens, dos seres, das fobias, das técnicas que faziam todos fazerem alguma coisa a outros” (LATOUR, 2015, pp 132) .
Esses esforços compreensivos, bem como muitos outros que participaram e participam da construção do pensamento sociológico, apontam para uma visão ampliada do tempo e do espaço e de seu papel na dinâmica social. Aproximam uma concepção destes como abarcando sentidos, representações, valores e capitais variados e participando ativamente da constituição e dinâmica da vida social.