Quando estive fazendo licenciatura em música, me deparei com uma matéria chamada etnomusicologia que propõe o estudo da música a partir dos aspectos culturais e sociais. O facilitador na época nos trouxe um estudo de caso para analisarmos. A partir daquele momento o conceito da estética musical começara a ter outro sentido pra mim enquanto pesquisador.
Trago aqui um estudo de Massimo Canevacci (antropólogo, etnógrafo e escritor italiano. Doutor em Letras e Filosofia, professor de Antropologia Cultural e de Arte e Culturas Digitais na Faculdade de Ciências da Comunicação, Universidade de Roma “La Sapienza”. Desde 1984 ensina e faz pesquisa também no Brasil), com o conceito de “ubiquitempo”, neologismo criado por ele para definir, do ponto de vista etnográfico, “as experiências descentradas e não-lineares de espaço-tempo” favorecidas pela comunicação digital contemporânea.
De acordo com ele, a concepção de ubiquitempo combina três conceitos centrais: simultaneidade, “uma estética feita de fragmentos entre metrópole e tecnologia”, tal como defendia o movimento artístico futurista; cronotopo, elaborado pelo filósofo Mikhail Bahktin para demarcar a relação dialógica entre o horizonte espacial e o temporal, que “se tornou essencial no desenvolvimento da polifonia literária”; e ubiquidade, metáfora que expressa a possibilidade de estar em qualquer lugar ao mesmo tempo graças ao potencial de conexão em escala global das redes digitais.
Canevacci propõe a definição de caráter metafórico que estende o alcance da ubiquidade para o mundo material da vida cotidiana, expandindo “a presença de todos os seres humanos ou divinos a todos os lugares”. Segundo ele, a ubiquidade é um conceito-chave na cultura digital, pois “caracteriza as relações humanas e não-humanas de espaço-tempo na Internet”. Ele lembrou que a definição tradicional do termo tem matriz teológica e está ligada à ideia de uma divindade onipresente, invisível e inescapável, que observa tudo e todos: “Deus sabe tudo e julgará você”, resumiu.
Para o antropólogo, os indivíduos ubíquos podem transitar entre diversas identidades, espaços e tempos, dando origem ao multivíduo. Trata-se, afirmou, da multiplicação de subjetividades para além das identidades fixas: “A ubiquidade desafia a identidade, que se torna mais flexível. O sujeito ubíquo da experiência etnográfica é multidividual”.