“A História é a ciência das ações dos homens no tempo”, ou a “História é a ciência humana que está para além da história dos grandes homens do passado” são alguns dos enunciados sobre os objetos de análise deste campo que até demonstram certa ampliação recente de perspectivas frente a um “estudo dos grandes acontecimentos do passado” outrora clássica.
Em todo caso, é o campo da studia humanitatis que usa da narrativa centrada na observação de vestígios e demonstração de causalidades não referentes a um processo estrito de transformação da natureza, das ligações químicas ou até mesmo das rochas e suas erosões. Debruça-se sobre as continuidades e transformações da humanidade em suas diferentes formas de ações e seus significados no espaço.
Por muito tempo essa conexão de causalidades e seus significados/desdobramentos esteve pautada na narrativa de processos macros. Uma percepção contaminada pelo aspecto universalista do Iluminismo de uma “história mundial” que portava contornos de uma história da civilização europeia ou a história do capitalismo na Europa, por vezes também confundida com a história dos Estados-nações iniciada no século XIX.
Uma abordagem de meados do século XX – já com desdobramentos historiográficos – trouxe novo oxigênio à perspectiva de uma história macro feita a partir desse ângulo analítico. A abordagem da micro-história propôs um olhar mais atento aos detalhes despercebidos e ignorados, mas que podiam revelar a complexidade dos fenômenos ou as operações das relações sociais costuradas nos contextos sócio-históricos. Parte da própria história da História, as críticas ou resistências a tal abordagem centraram-se na ideia de que esse tipo de perspectiva e escrita historiográfica poderia por demais fragmentar as histórias, acarretando numa desconexão dos processos de interesse para a atualidade, inclusive, aqueles que dizem respeito aos conflitos de classe.
Em meio aos debates, disputas do campo historiográfico e florescimento de novas pesquisas e fontes tem-se um novo olhar que busca correlacionar a parte ao todo e o todo à parte. Encaminha-se para o entendimento de que existem diálogos ou até mesmo divergências entre as histórias localizadas de pessoas e ações de natureza cultural, econômica e política com os processos ditos macros (que não necessariamente se resumem numa História da Nação nessa proposta). Esse é o caso da micro-história regional, que se depara também com outra perspectiva que é a da Nova História Global: por mais que o nome “global” nos incline a uma velha história generalista e universalista, tem-se como uma das suas propostas entender as contribuições e conexões das partes entre as partes para entender um todo localizado ou estabelecido de acordo com o foco de análise.
Tratam-se de perspectivas que se transformam, recuperam ou reinventam modos novos de entender e representar um universo de possibilidades chamado de “passado” que é imaginariamente entendido como congelado e inerte com a ideia do “aconteceu”. A relação entre esse “passado” e o universo de possibilidades que convencionamos a chamar de “presente” dão novos ares e olhares diante dos novos e transformados interesses dos sujeitos históricos.