Falando a partir de um determinado lugar social e epistêmico podemos nomear diferentes construções e manifestações de pensamento em palavras e conceitos que por si só denotam hoje vários significados de oposições, aproximações ou ambiguidades, se levantarmos algumas possibilidades: ciências, mitos, memes, literaturas. Todos esses campos de construções mentais e de ações apresentam significados para as atividades humanas, entre eles a História. Hoje atravessada por outros campos como a Antropologia, Ciências Sociais e Arqueologia, esta lente das ciências humanas tem a sua historicidade, passando por diferentes construções e desconstruções como as que podem ser notadas com a chamada “crise do paradigma moderno” nas últimas décadas do século XX.
Pegando apenas uma parte de todo um caldo de situações envolvendo esse campo podemos notar uma questão que ainda contorna os seus locutores: em meio às possibilidades da pesquisa histórica encontra-se também certo desafio no lidar com o que se convencionou compreender como “presente” e, principalmente, com as novidades nesse “tempo presente”. Talvez seja cabível aquilo que Antoine Prost buscou analisar a partir da pergunta “o que a história faz com o historiador?”
No âmbito da linguagem é possível perceber como isso se coloca quando é recorrido a comentar fenômenos do presente. Geralmente as referências são os objetos e os significantes pensados no presente para o passado. Imersos nesse campo são levados a utilizarem conceitos construídos para determinados fenômenos e “acontecimentos” que deixam rastros e continuidades, mas que também se transformam. Essa questão parece vir à tona quando buscam traduzir um movimento político, por exemplo, utilizando-se de conceitos criados e pensados para determinado contexto. Um escape – não sendo tão escape assim – são os neologismos, mas geralmente limitados ao acréscimo de um prefixo “neo” para dar o tom de novidade.
A relação de olhar o passado com os olhos do presente e ter como referência o passado (seja ele qual for) para pensar o presente parece de fato conferir uma constatação simples, mas que contrasta com o velho estigma: a de que as vozes do campo da história são antiquárias, como se olhassem apenas o passado. Envolvidas nas problemáticas que se manifestam no seu tempo, movem-se buscando referências a partir das experiências passadas, mas criando também novidades “para cá” e “para lá”: novas disputas no interior do campo, novas fontes, novas metodologias, novas perguntas.
A história digital é um exemplo recente e do “ainda-sendo”. Diante das novas possibilidades que o espaço digital oferece como fonte histórica, de memória e de problemáticas de contexto, coloca-se em diálogo também com outra área recente que se moveu a partir do alerta “o tempo passa e o crédito dos historiadores também”: a História Pública. Seria parte de um novo paradigma, principalmente se for levado realmente a sério a premissa de “compartilhar a função do campo” com o público ou “os públicos”, para além de se pensar na ampliação do alcance do já existente? O tempo na relação do “é-foi-sendo” que vai dizer.