:: EDIÇÃO 016 :: Sociologia

TEOLOGIAS POLÍTICAS E AS TENSÕES ENTRE REVELAÇÃO E HISTÓRIA

A reivindicação da religião como um elemento constitutivo da vida pública é um fenômeno que tem crescido em relevância nas últimas décadas.  Esse elemento, dentre tantas outras implicações ao pensamento, traz à tona a questão do relacionamento entre as várias hermenêuticas construídas para dar sentido a uma realidade cada vez mais plural e fragmentada, e aquilo que se considera enquanto elementos de uma revelação. Esse cenário, contudo, não se trata de algo inteiramente novo. A novidade pode estar apenas no fato de que este fenômeno tem sido vivenciado em um contexto específico, caracterizado pela imposição do paradigma cultural da modernidade ocidental e por se desenrolar depois de séculos de dominação colonial e neocolonial. É o que acredita Boaventura de Sousa Santos. 

Santos observa que depois de muitos anos de conflitos na Europa, o paradigma da modernidade ocidental alcançou uma nova e inovadora resolução para a questão religiosa: Por um lado, os valores do cristianismo foram aceitos como universais, por outro, o cristianismo institucional foi relegado ao domínio da esfera privada e das decisões voluntárias dos indivíduos. Essa resolução seria um “localismo globalizado”,  uma solução local que, em função do poder econômico, político e cultural de quem a promove, se expande por todo o globo, construindo cenários frágeis e em constantes negociações e nuances quando encontram as realidades particulares às quais tentam se impor. É no contexto deste quadro analítico que o autor concebe o conceito de Teologia Política, caracterizando-o enquanto uma categoria que engloba os diferentes modos de conceber a intervenção da religião, entendida enquanto mensagem divina, na organização social e política da sociedade.

Essa consideração levou à construção de uma distinção entre duas formas de interpretar a relação entre revelação e história, e as tensões derivadas dela. O autor observa que cada tipo de teologia política oferece uma determinada articulação para a questão, dividindo-as em dois tipos ideais. Para as teologias pluralistas, a revelação ocorre em um contexto político e social determinado, estando seu valor relacionado à abertura a novos contextos e sua relevância vinculada a sua capacidade de lidar com as necessidades e demandas sociais e existenciais de um tempo específico. Assim, as Teologias políticas pluralistas concebem uma religião na história. As teologias políticas fundamentalistas, por sua vez, entendem que a revelação, sendo eterna, é acontextual e, logo, contém em si mesma todas as possíveis necessidades históricas, bem como todos os acidentes que levaram a sua emergência. Desta forma, o que está em jogo nesta concepção, segundo observa Santos, é a ideia de uma história dentro da religião.

Referências:
BELLAH, Robert N. Beyond Belief: Essays on Religion in a Post Tradicional World. University of California Press, 1991. 
HABERMAS, Jürgen. Fé e saber. São Paulo, Editora Unesp, 1ª ed., 2013. 
SANTOS, Boaventura de Sousa. Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos. São Paulo, Cortez, 2ª ed., 2014. 



Pattrick Pinheiro
28 anos de vida e Fé Cristã. Mestrando em Sociologia, com ênfase em Sociologia da Religião. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, com domínio adicional em Cristianismo e Diálogo com o Mundo Contemporâneo. Colunista, editor e articulador do Espírito&Atualidade (2014 - atual). Aluno da Clínica de Música e ADD ASAPH Ministérios desde 2008.

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