A percepção da existência, sua significação e representação acompanham a humanidade desde os seus primórdios, em diferentes formas e inscrições na materialidade e subjetividade. Desde os primeiros agrupamentos na Era Antes da Escrita, os humanos, em suas andanças e movimentos, buscaram viver não só da materialidade conquistada laboriosamente com a caça, coleta, formação de abrigo e mais tarde com o ato de plantar e criar animais, viver passava também por uma relação de apreensão dos novos eventos que se apresentavam cotidianamente pelo desconhecido revelado no ambiente em que viviam.
Entre as diferentes formas de apreensão e sua significação estiveram práticas ritualísticas, construção de mitos e simbolização, como aqueles vistos nos registros de cavernas, pedras, troncos de árvore e solos. A partir de vestígios e conexões estabelecidas por arqueólogos, paleontólogos e historiadores da arte, levantaram-se como possíveis sentidos para tais inscrições a ideia de que o novo carecia ser apreendido e representado, com diferentes objetivos dependendo das culturas e percepções ali em construção.
Algumas das conjecturas passam pela busca do controle do “novo-alimento” que podia ser os animais a serem caçados e encontrados num período seguinte. Podia ser também o “novo-a-contemplar-e-controlar”, com a busca pela harmonização e uso das forças da natureza com quem conviviam ou ainda aquelas novas que surgiam diante deles.. Eis uma possível operação a se apontar entre ambiente, percepção dos elementos da natureza e sua representação ligada à memória do ato percebido para a sua significação. Em outras palavras, criação de sentido seja ela a busca pelo controle de outras espécies para a alimentação, incorporação energética ou simplesmente uma tomada de consciência e percepção sobre si no mundo que o cerca.
A representação como recorte do “novo-cotidiano”, seja em forma de arte ou em discurso de memória oralizada e/ou escrita, carrega desde o surgimento da humanidade a relação entre a singularidade das percepções dos olhos e mentes contemplantes na vida, dos ambientes em que se originaram os novos eventos e dos processos históricos de organização social produtiva, política e cultural.
Nas experiências históricas e em seus contextos socioculturais, os sujeitos se depararam com novos eventos e fenômenos produzidos pelo ambiente e por eles mesmos na relação com o meio natural e/ou social. Tal relação de existência produziu e produz singularidades de diferentes saberes práticos e pensados, diferentes noções da passagem do tempo, diferentes respostas éticas sobre a vida, diferentes interações com o sagrado, diferentes inculcamentos e subjetivações que relativizam falar de um olhar único sobre “os novos”.
Por meio de relações de poder e violências simbólicas e físicas, na história pode se extrair construções sociais de hegemonias, não só entre as classes das relações de produção, mas de percepção e discurso sobre o novo. Entre elas as hegemonias de formatos, estéticas, padrões e modelos sociais de vivência, como a chamada “Civilização”. O eurocentrismo epistemológico e social pode ser considerado uma manifestação, dentre outras por tempo dominante e que ainda tem seus efeitos, mas cujo reinado vem sendo contestado e destronado por sujeitos singulares da própria história.