:: Edição 006 :: Interação e Dados

REFLEXÕES SOBRE MEMÓRIA FAMILIAR E TECNOLOGIA

É interessante observar como a tecnologia tem mudado a vida contemporânea muito rapidamente. Por um lado, temos mais soluções para o dia a dia e conforto, por outro somos bombardeados por informações que mal conseguimos processá-las em nossa mente. Diante deste cenário cabe a indagação: como estamos construindo nossa memória familiar em nosso tempo?  

Pode parecer uma resposta simples. Toda esta tecnologia vai proporcionar os melhores registros de uma época. Mas, talvez não seja tão simples assim.

Como uma família registrava sua história antes da “digitalização”?1 Tornar digital ou passível de tratamento ou funcionamento através de tecnologia ou dispositivos  eletrônicos.  Cartas importantes eram guardadas com carinho, documentos (certidão de nascimento, casamento, de óbito…), convites, livros, álbuns de fotografia, discos e fitas cassete, moedas…

Como uma família registra sua história em nosso tempo? As cartas se transformaram em e-mails, mensagens em redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas muito provavelmente hospedados num servidor no exterior através de um serviço “gratuito”. Até quando estarão lá? Como trazê-los para si? E como mantê-los legíveis e escapar da obsolescência tecnológica?2 Quando uma tecnologia ou equipamento se torna obsoleto. Exemplo: Os disquetes e CDs amplamente utilizados para guardar dados num passado próximo hoje não são mais utilizados de forma que o conteúdo ficou inacessível. 

Todo conteúdo digital necessita de um equipamento para ser acessado, de uma tecnologia. Não é como uma carta em papel que não requer equipamentos para ser visualizada.

Sobre a fotografia e vídeo temos um capítulo à parte. A tecnologia avançou permitindo que qualquer pessoa com um celular pudesse fazer seus registros e as redes sociais possibilitaram a divulgação de forma ampla. Assim, aumentou muito conteúdo sendo produzido para ser consumido e, em alguns casos, descartado rapidamente.3 O Stories são um formato visual de apresentação de mídia nas redes sociais que desaparece da plataforma após 24 horas.  Este fluxo intenso e volátil aumenta a possibilidade de perda de informação. Como gerir esses registros e favorecer uma conservação para poder acessá-los daqui há alguns anos? Como armazenar de forma que eles permaneçam para outras gerações?

A tecnologia favorece muitos avanços mas possui fragilidades. Cabe o uso de forma consciente e reflexiva pois a memória é fundamental para construção histórica e manutenção da identidade cultural. 

Todas as notas

[1] Tornar digital ou passível de tratamento ou funcionamento através de tecnologia ou dispositivos  eletrônicos.
[2] Quando uma tecnologia ou equipamento se torna obsoleto. Exemplo: Os disquetes e CDs amplamente utilizados para guardar dados num passado próximo hoje não são mais utilizados de forma que o conteúdo pode ficar inacessível.
[3] O Stories são um formato visual de apresentação de mídia nas redes sociais que desaparece da plataforma após 24 horas.

Referências

Abreu, Jorge Phelipe Lira de. Existir em bits: arquivos pessoais nato-digitais e seus desafios à teoria arquivística. Associação de Arquivistas de São Paulo, 2018.
Baggio, C. C.; Flores, D. (2013). Documentos digitais: preservação e estratégias. // Biblos: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação 27: 1 (2013) 11-24. Disponível em:<http://www.seer.furg.br/biblos/article/view/2654> Acesso em 01 de junho de 2022.
RONDINELLI, R. C. Gerenciamento arquivístico de documentos eletrônicos: uma abordagem teórica da diplomática arquivística contemporânea. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. 
SCHELLENBERG, T. R. Arquivos modernos: princípios e técnicas. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 
THOMAZ, K. de P. Gestão e preservação de documentos eletrônicos de arquivo: revisão de literatura – parte 2. Arquivística.net, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 114-131, jan./.jun. 2006. Disponível em: <https://brapci.inf.br/index.php/res/v/49929>. Acesso em: 01 de junho de 2022.




Daniel Peregrina
41 anos de vida e Fé Cristã. Bacharel em Direito. Pós-Graduado em Gestão e Coordenação de Ensino. Pós-Graduado em Psicopedagogia com Aperfeiçoamento de Docência. Bacharelando em Arquivologia. Há 19 anos atuando no mercado de comunicação Visual (Identidade Visual, Design Digital e Design Gráfico).

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