:: Edição 004 :: Literatura e Linguística

DICOTOMIAS DA LINGUÍSTICA E DA VIDA

Saussure foi um pensador importante para o início da linguística como ciência. Seus pensamentos, muitos deles compilados por seus próprios alunos de aulas e palestras, influenciaram seminalmente o estudo linguístico no início do século XX, e até hoje reverberam nos diversos rumos da linguística moderna.

Talvez a sua dicotomia mais famosa seja a língua e fala (langue e parole), a separação mística entre a língua como produto social, depositada na mente de cada falante de uma comunidade e a fala, um ato individual e altamente influenciado por fatores externos. Apesar de essa separação ter, de fato, permitido o crescimento da linguística como ciência à época, ela acabou por deixar de fora questões relativas à fala, e ao uso mais “comum” e “espontâneo” da língua, visto que Saussure acreditava que ela não era passível de estudo científico e análise.

Mais tarde, alguns pesquisadores começaram a se questionar se realmente essa área deveria ser deixada de fora dessa ciência. E, em alguns anos, o estudo da linguística passou a ser, também, precisamente aquilo que Saussure relegou a um plano secundário: a fala. Certamente hoje as duas linhas de estudo da linguística coexistem, seguindo ou contestando os princípios suscitados por Saussure.

Creio que isso também se aplica a outros aspectos da vida. Muitas vezes nos pegamos, em um momento, absortos em um determinado modo de pensar ou de viver, e simplesmente algum tempo depois nos vemos questionando, duvidando, ressignificando esse mesmo modo de vida. Não é raro nos encontrarmos acreditando no oposto do que acreditávamos antes.

Eu aprendi a não ter medo das contradições que a vida apresenta. Eu aprendi que nem sempre as ideias aqui dentro estarão pacificadas e haverá convicção plena sobre todas elas. Muitas vezes os momentos em que mais aprendemos (sobre a vida e sobre nós mesmos) é justamente os momentos em que precisamos manter dois pensamentos diferentes, ou até mesmo opostos, em tensão. 

Talvez isso ocorra porque essa tensão é inerente à vida aqui neste lado da eternidade. Se há espaço, seja na Bíblia ou na vida, para a dança dos pensamentos, talvez a melhor escolha seja desamarrar os sapatos e permanecer na pista.

REFERÊNCIAS

Ferdinand de Saussure. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Ferdinand-de-Saussure>. Acesso em: 15 ago. 2021.
SAUSSURE, F. de. Curso de Lingüística Geral. Tradução Antônio Chelini, José Paulo Paes, Isidoro Blikstein. 25.ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. v. 2. São Paulo: Cortez, 2001.
CÂMARA, J. M. História da Lingüística. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1975.




Felipe Aguiar
34 anos de idade, 28 de Fé Cristã. Mestre em Letras – Linguística. Bacharel em Letras – Inglês / Literaturas. Licenciatura em Letras – Português / Inglês. Graduado em Gravação e Produção Fonográfica. Técnico em Processamento de Dados. Livros Publicados: 2015 – “Coração Poeta: Pequenas doses de poesia para pensar na vida”. 2013 – “Trazendo à Terra as Canções do Céu”.

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