Saussure foi um pensador importante para o início da linguística como ciência. Seus pensamentos, muitos deles compilados por seus próprios alunos de aulas e palestras, influenciaram seminalmente o estudo linguístico no início do século XX, e até hoje reverberam nos diversos rumos da linguística moderna.
Talvez a sua dicotomia mais famosa seja a língua e fala (langue e parole), a separação mística entre a língua como produto social, depositada na mente de cada falante de uma comunidade e a fala, um ato individual e altamente influenciado por fatores externos. Apesar de essa separação ter, de fato, permitido o crescimento da linguística como ciência à época, ela acabou por deixar de fora questões relativas à fala, e ao uso mais “comum” e “espontâneo” da língua, visto que Saussure acreditava que ela não era passível de estudo científico e análise.
Mais tarde, alguns pesquisadores começaram a se questionar se realmente essa área deveria ser deixada de fora dessa ciência. E, em alguns anos, o estudo da linguística passou a ser, também, precisamente aquilo que Saussure relegou a um plano secundário: a fala. Certamente hoje as duas linhas de estudo da linguística coexistem, seguindo ou contestando os princípios suscitados por Saussure.
Creio que isso também se aplica a outros aspectos da vida. Muitas vezes nos pegamos, em um momento, absortos em um determinado modo de pensar ou de viver, e simplesmente algum tempo depois nos vemos questionando, duvidando, ressignificando esse mesmo modo de vida. Não é raro nos encontrarmos acreditando no oposto do que acreditávamos antes.
Eu aprendi a não ter medo das contradições que a vida apresenta. Eu aprendi que nem sempre as ideias aqui dentro estarão pacificadas e haverá convicção plena sobre todas elas. Muitas vezes os momentos em que mais aprendemos (sobre a vida e sobre nós mesmos) é justamente os momentos em que precisamos manter dois pensamentos diferentes, ou até mesmo opostos, em tensão.
Talvez isso ocorra porque essa tensão é inerente à vida aqui neste lado da eternidade. Se há espaço, seja na Bíblia ou na vida, para a dança dos pensamentos, talvez a melhor escolha seja desamarrar os sapatos e permanecer na pista.