Na tentativa de escrever um texto apresentando minha concepção de ciência que apresente uma visão questionadora do papel do método, dialogando com a visão de coexistência de Programas de Investigação Científica, de Lakatos, e anarquismo epistemológico, de Paul Feyrabend; gostaria de salientar a importância de considerar a influência de docentes sobre a concepção de ciência, que trago em minha “bagagem”. Atrevo-me a dizer que as diferentes concepções sobre ciência criadas por diversos autores, podem ter sido sempre influenciadas por seus pares.
A palavra ciência vem do latim scientia, que significa conhecimento, e do verbo scire (saber). No entanto, a palavra ciência apresenta diferentes definições quando analisada de acordo com as práticas e valores de distintas áreas de conhecimento. Os autores Kosminsky e Giordan (2002) elucidam isto ao apresentar as seguintes definições encontradas:
Ciência, s.f. Conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e, poss., orientar a natureza e as atividades humanas (Ferreira², 1986). Cientista, s.m. Pessoa que cultiva particularmente alguma ciência; especialista numa ciência, ou em ciências. (Ferreira, 1986). (KOSMINSKY; GIORDAN, 2002, p. 11).
Segundo Lakatos, é desejável que exista competição entre diferentes teorias, pois afirma que é assim que ocorre na história da ciência. De acordo com Tesser (1994), a ciência é fruto da cultura moderna e pós moderna, e esta envolve universos empiristas e pragmatista da pesquisa aplicada que faz valer a importância da epistemologia.
Gostaria de destacar que por vezes empregam-se o termo “cientificamente comprovado” para afirmar que um determinado produto ou estudo é eficaz, de alta qualidade, pois utilizou-se um método científico que corrobora resultados seguros e incontestáveis. Porém, acredito que a ciência não está confinada à algumas “autoridades científicas” e sim, representa uma prática social. Deste modo, ainda que o método não seja seguido, o conhecimento adquirido pode ser considerado ciência, ainda que não seja tido como “certo” ou “seguro”, pois a metodologia não explica a ciência.
Entendo que, a ciência é constituída de manifestações, como mencionei na edição anterior, por fenômenos observáveis e não observáveis e pode ser entendida como uma forma de conhecimento. No entanto, como proposto por Feyrabend, não pode ser considerada como modo exclusivo.
Feyrabend traz uma nova concepção de ciência, relatando o pluralismo de ideias e a aceitação de métodos e argumentos diferentes. O conceito de conhecimento a partir da ciência, é entendido de forma generalizada como um conhecimento de uma posição privilegiada quando comparado com os demais. Assim, determinados setores se apropriam de maneira indevida do termo ciência. Outra problemática é a existência de fragmentação do conhecimento científico, o que pode inibir o pensamento transformador.
Salienta-se o que foi dito por Feyrabend: “O caminho da ciência é traçado antes de tudo pela imaginação criadora e não pelo universo de fatos, que nos cerca”. Pode-se dizer que existe pouco interesse em despertar o pensamento crítico a fim de que cada um possa ver diferentes situações em perspectivas. Desta forma, tornou-se inerente ao indivíduo algo que Hume criticava, ao admitirmos teorias apoiadas em fatos e deixarmos de lado teorias falseadas, e ainda extinguindo nossa imaginação criadora defendida por Feyrabend.
Diante disso, a ciência estaria relacionada à formulação de hipóteses que podem ser testadas, aperfeiçoadas, confrontadas e corrigidas. Recusar a prática de testes estaria prejudicando o avanço do conhecimento e por conseguinte, da ciência.