Inovação tecnológica. Pesquisa científica. Tempo. Velocidade. Produção. Termos que apontam para a tônica dos últimos meses. Aliás, o termo utilizado para o referencial tempo foi encurtado do que comumente se usa para, de certa forma, ilustrar que o estabelecido já não é mais o mesmo. Transformações profundas estão assolando o mundo conhecido e desafiando a nossa capacidade de compreensão dos fenômenos. Os limites entre a capacidade de processamento e capacidade de produção nunca foram tão duramente desafiados e embora haja uma corrente na tentativa de contenção, é notório que não dá para parar um tsunami. Diante disto, cabe um pensamento: é possível “nomear” ou “classificar” os acontecimentos atuais?
Em primeiro lugar, é importante salientar um dos principais motivos que a humanidade nomeia e classifica as coisas. Afinal, por que precisamos classificar? Esta pergunta está diretamente relacionada ao campo da análise de dados, pois toda análise com intenção séria baseia-se em dados. Estes elementos começam a fazer sentido a partir do momento em que é possível defini-los, pois não há possibilidade de levantamento de dados sem a ciência do que está se levantando. Parece-nos óbvio, mas observe a questão: suponha que determinado pesquisador deseja saber sobre algum comportamento de determinada população – aqui, você já deve ter feito a pergunta: deseja saber o que? Suponhamos que este pesquisador queira levantar a informação do poder econômico da população estudada. Dentro deste viés, precisará definir o conceito de “poder econômico”, classificar esta população em grupos para fazer distinções e gerar conclusões sobre o estudo levantado.
Uma outra característica importante sobre o processo de classificação e nomeação dos fenômenos diz respeito a previsibilidade. Ora, quando não há dados históricos que nos permita fazer projeções sobre o futuro, o grau de incerteza e risco aumenta significativamente em todas as esferas da vida em sociedade. Aliás, você já parou para refletir sobre a base dos movimentos econômicos que acontecem ao redor do mundo? Tudo se baseia em previsões e crenças – enquanto o vendedor de um ativo acredita que este desvalorizar-se-á, o comprador acredita no completo oposto. O desequilíbrio nas projeções e a falta de clareza quanto aos riscos assumidos afetam não somente investidores ativos no mercado financeiro, mas todo o circuito econômico.
Toda esta contextualização mostrou-se necessária e trouxe-nos novamente a primeira questão da nossa conversa: é possível “nomear” ou “classificar” os acontecimentos atuais? Em um primeiro momento, adotando uma postura mais conservadora, alguns podem dizer que esta é a era da Inteligência Artificial (IA), mas permitindo-se aprofundar um pouco mais, o que é a IA? Seria um sistema? Um produto? Uma estrutura? Talvez, reconhecer que estamos na era da IA, suscita-nos mais perguntas do que respostas.
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