:: Edição 011 :: Saúde Integral

O TEXTO QUE (NÃO) LI

Para começar, quero propor que imaginemos uma situação: uma pessoa diz que não se sente bem, que está com alguns sintomas1 Sintoma: é um sinal, alterações da percepção comum nas funções vitais, que podem estar presente no organismo em resposta a uma doença. (náuseas, febre, dor de cabeça, etc.) que podem ser de determinada doença (qualquer doença pode ser utilizada aqui), e que por isso, precisa procurar o médico, ou outro profissional da saúde para relatar o que sente. Seu objetivo é combater a doença e alcançar a “cura”. 

Nesta situação, parece que a doença chama mais atenção que a saúde. Além disso, a doença fica mais evidente do que o sujeito que relata os sintomas. Pensar em prevenção e cura parece contraditório. Segundo Singh (2010), neste tipo de cuidado o foco é o controle – “reduzir a dor, minimizar as deficiências, adiar a morte.” 

Para Simon (1969), o processo de reabilitação ou cura é viabilizado quando o ambiente externo é adequado ao ambiente interno e vice-versa. O ambiente interno é representado pelo sujeito em seu caráter físico, psíquico e cognitivo; o ambiente externo refere-se ao contexto que o sujeito está inserido, considerando também os profissionais e utensílios que o cercam.

A reabilitação ou cura é um processo, que compreende as inter-relações das várias dimensões do ser. Este processo envolve múltiplos fatores ligados ao sujeito, que vai além das técnicas desenvolvidas para exames clínicos e parâmetros de medição com faixas estipuladas para dizer se determinada pessoa está adequada ou não. Existe um processo interno individual, uma experiência própria.

Outro ponto que pode ser interessante refletir, refere-se a busca demasiada por atender aos parâmetros estabelecidos de normalidade para a saúde. Uma pressão diária em atender a necessidade de se mostrar saudável, neste caso, práticas simples e diárias de cuidado em saúde não são suficientes, ser saudável não é suficiente porque é necessário mostrar-se saudável. Em alguns casos, é muito mais importante atender aos parâmetros para responder perguntas do tipo: Qual o seu percentual de gordura? Ou, qual seu percentual de massa magra?

A saúde é relacionada ao mercado de consumo e o corpo passa a ser um objeto de investimento. Os sujeitos que não conseguem se adequar aos parâmetros da boa forma, são colocados à margem e considerados como negligentes. Talvez a leitura deste texto dependa da perspectiva que se está, no sujeito que lê, no tempo que lê, em como se lê, na indagação que se faz.

Todas as Notas

[1] Sintoma: é um sinal, alterações da percepção comum nas funções vitais, que podem estar presente no organismo em resposta a uma doença.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O medo líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
SANTOS, M. A. dos et al. Corpo, saúde e sociedade de consumo: a construção social do corpo saudável. Revista Saúde e Sociedade, v. 28, n. 3, 2019. Disponível em SciELO - Brasil - Corpo, saúde e sociedade de consumo: a construção social do corpo saudável Corpo, saúde e sociedade de consumo: a construção social do corpo saudável
SINGH, A. Medicina moderna: rumo à prevenção, à cura, ao bem-estar e à longevidade, Revista Latiniam. Psicopatol. Fundam, v. 13, n. 2, 2010. Disponível em SciELO - Brasil - Medicina moderna: rumo à prevenção, à cura, ao bem-estar e à longevidade Medicina moderna: rumo à prevenção, à cura, ao bem-estar e à longevidade
SIMON, Hebert A. The Sciences of the Artificial. Cambridge, MA: MIT Press, 1969. ______. The Sciences of the Artificial. 3. ed. Cambridge, MA: MIT Press, 1996 [1ª edição publicado em 1969]
VARELA, A. V.; BARBOSA, M. L. A. Trajetórias cognitivas subjacentes ao processo de busca e uso da informação: fundamentos e transversalidades. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 17, n. esp., p. 142-168, 2012. DOI: 10.5007/1518-2924.2012v17nesp1p142 
VIEIRA, G. B. B. Design e saúde: a cura como artefato estético. Revista imagem, v. 2, n. 1, p. 11-20, 2012.





Geani Marins
29 anos de vida e Fé Cristã. Doutoranda em Saúde Pública e Meio Ambiente. Atua nas linhas de pesquisa: Epidemiologia de doenças transmissíveis e Geoprocessamento e análise espacial em saúde. Pesquisadora colaboradora no Projeto de Pesquisa e Extensão APHETO: Autopercepção da imagem corporal e nutricional, história clínica e epidemiológica na terapia nutricional do outro. Mestre em Ciências Ambientais e Conservação. Nutricionista.

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