A percepção do “tempo” é fundamental nos estudos epidemiológicos, fazendo parte da tríade tempo-pessoa-lugar. Assim, neste texto proponho uma reflexão sobre a variável tempo, com ênfase na epidemiologia descritiva, perpassando brevemente na questão enigmática relacionada à saúde das populações.
A epidemiologia é uma palavra de origem grega (do grego: epi “sobre”, demos “povo” e logos “estudo”), que de maneira resumida, pode ser explicada como uma ciência que estuda os fatores que afetam à saúde das populações, propondo intervenções para controle e prevenção dos problemas de saúde. Neste contexto, distingue-se de outras áreas que tem como foco o indivíduo, como por exemplo, as ciências biomédicas. O alvo do estudo epidemiológico é a população (RAMOS et al., 2016).
A população utilizada em um estudo epidemiológico, é definida como um grupo específico de pessoas, localizados em determinada área em um certo momento do tempo. Alguns exemplos: Um grupo de estudantes de determinada Universidade; um grupo de pacientes hospitalizados; e um grupo de crianças nascidas em determinada cidade ou Estado. Ainda, a epidemiologia pode ser dividida em dois tipos, Epidemiologia Descritiva e Epidemiologia Analítica. Gostaria de destacar a Epidemiologia Descritiva. Esta é responsável pelo estudo da frequência e distribuição das doenças ou outros eventos ocorridos na população, observando as características desta distribuição (LIMA-COSTA; BARRETO, 2003; GERMANO; ALONZO, 2017).
Para a Epidemiologia Descritiva, o tempo é uma variável1 Uma unidade de análise do estudo, como por exemplo, classe social, idade e escolaridade. indispensável. Descrever a distribuição cronológica, bem como as variações sazonais, cíclicas e irregulares pode indicar os riscos a que a população está sujeita, prever a ocorrência de doenças, a tendência secular de determinado processo e auxiliar na criação de políticas públicas.
No tempo cronológico, existe um tempo oportuno, um momento propício e crítico para ação de medidas de controle nas situações de alerta epidemiológico. Na literatura científica, existe um consenso de que a investigação epidemiológica na população requer uma resposta rápida e apropriada. Em alguns casos a “janela da oportunidade” para executar a investigação ou ação preventiva, limita-se em poucas horas ou dias.
A mobilização de recursos epidemiológicos de forma rápida, está relacionada com a capacidade de identificar um alerta epidemiológico e sua capacidade de resposta. Para isso, identificar o tempo crítico, o tempo oportuno é uma necessidade. Podemos exemplificar com algumas situações de saúde pública que ocorreram no Brasil. A COVID-19 é o exemplo mais recente, mas anteriormente lembramos do rompimento das barragens de Mariana (MG) no ano de 2015 e de Brumadinho (MG) no ano de 2019. Ademais, outras doenças como o avanço da obesidade, as epidemias dos vírus Zika, Dengue e Chikungunya; e doenças como a Malária e a Febre Amarela.