:: EDIÇÃO 17 :: Literatura e Linguística

A INTERSEÇÃO ENTRE LINGUÍSTICA E RELAÇÕES SOCIAIS: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA

A interseção entre a linguística e as relações sociais é um campo fértil de investigação que busca compreender como a linguagem transcende sua função instrumental para se constituir como um fenômeno social, histórico e político. A partir dessa perspectiva, torna-se evidente que a linguagem não opera isoladamente, mas interage com as estruturas sociais, as dinâmicas de poder e os processos de construção de identidades. Este texto explora esse entrelaçamento teórico, à luz das contribuições de autores como Mikhail Bakhtin, John Gumperz e William Labov, cujas abordagens revolucionaram a compreensão do papel da linguagem nas práticas sociais.

Mikhail Bakhtin, em sua teoria do dialogismo, apresenta a linguagem como essencialmente social e polifônica, destacando que todo enunciado é moldado pelas interações com outras vozes e discursos. Para Bakhtin (1981), “a palavra é sempre semântica e socialmente carregada”, uma vez que a linguagem reflete e constitui as relações sociais, os contextos históricos e as disputas ideológicas. Assim, a comunicação verbal nunca ocorre em um vácuo neutro, mas é mediada por tensões e relações de poder. Essa visão oferece uma base teórica para investigar como as relações sociais são negociadas e (re)configuradas por meio da linguagem.

John Gumperz, por sua vez, trouxe à tona a importância do contexto social para a interpretação das interações linguísticas. Seu conceito de pistas conversacionais revela como elementos não verbais ou suprassegmentais – como entonação, ritmo e pausas – desempenham um papel crucial na construção de sentido nas interações. Gumperz (1982) argumenta que a comunicação humana não depende apenas do conteúdo verbal explícito, mas também de marcadores linguísticos que indicam pertencimento social ou cultural. Essa perspectiva ressalta a capacidade da linguagem de reforçar identidades e, simultaneamente, evidenciar a alteridade nas relações sociais.

Já William Labov, pioneiro da sociolinguística, aprofundou o entendimento sobre a variação linguística como reflexo das dinâmicas sociais. Seus estudos demonstraram que as escolhas linguísticas de um indivíduo – no nível fonético, lexical ou gramatical – são fortemente influenciadas pelas normas e valores de sua comunidade de prática. Labov (1972) mostrou que a linguagem não apenas reflete desigualdades sociais, mas também as reforça por meio de preconceitos linguísticos que legitimam ou estigmatizam determinadas variedades. Nesse sentido, a sociolinguística desvela o papel da linguagem como ferramenta de inclusão ou exclusão social.

A partir dessas contribuições teóricas, é possível compreender que a linguagem não se limita a uma ferramenta de comunicação, mas atua como um fenômeno estruturante das relações sociais. A interação entre linguística e sociedade evidencia como a linguagem é instrumentalizada tanto para o exercício do poder quanto para a construção de identidades e a transformação social. Essa interseção teórica não apenas ilumina as dinâmicas subjacentes às práticas comunicativas, mas também revela o potencial emancipador da linguagem quando utilizada como objeto de reflexão crítica.

Referências:
BAKHTIN, Mikhail. The Dialogic Imagination: Four Essays. Austin: University of Texas Press, 1981.
GUMPERZ, John J. Discourse Strategies. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
LABOV, William. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.



Felipe Aguiar
34 anos de idade, 28 de Fé Cristã. Mestre em Letras – Linguística. Bacharel em Letras – Inglês / Literaturas. Licenciatura em Letras – Português / Inglês. Graduado em Gravação e Produção Fonográfica. Técnico em Processamento de Dados. Livros Publicados: 2015 – “Coração Poeta: Pequenas doses de poesia para pensar na vida”. 2013 – “Trazendo à Terra as Canções do Céu”.

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