:: EDIÇÃO 016 :: Literatura e Linguística

UM OLHAR SOBRE O OUTRO: PERSPECTIVAS LINGUÍSTICAS E SUBJETIVIDADE

A forma como cada indivíduo apreende e recorda as informações do mundo que o cerca é profundamente influenciada pela linguagem e pelas interações sociais. Esse processo de apreensão, como discutido por autores como Mikhail Bakhtin, é mediado pela perspectiva que cada pessoa adota ao descrever eventos e objetos. Bakhtin (1993) argumenta que a linguagem é um fenômeno essencialmente dialógico, no qual o sentido é construído na interação entre diferentes vozes e pontos de vista. Dessa forma, a maneira como descrevemos o outro, ou o mundo ao nosso redor, é sempre moldada por múltiplos aspectos e perspectivas que emergem ao longo do tempo e da experiência.

A descrição de um objeto ou evento nunca é neutra; ela está sempre situada em uma multiplicidade de aspectos e perspectivas que se firmam na temporalidade. Esse caráter subjetivo do tempo influencia como percebemos e narramos nossas experiências. Como enfatiza Paul Ricoeur (1984), a memória e a narrativa são processos que organizam e dão sentido ao fluxo do tempo, permitindo que os indivíduos construam uma compreensão coerente e significativa de suas vivências. Assim, o ato de narrar o outro é, em si, uma construção subjetiva, que revela tanto sobre o narrador quanto sobre o objeto da narração.

O contexto social no qual estamos inseridos desempenha um papel importante na formação de nossas perspectivas individuais. A linguagem, como ferramenta de comunicação e interação, está profundamente enraizada no espaço de vivência de cada sujeito. Como aponta Bakhtin (1981), as palavras que usamos carregam consigo os ecos de todas as vozes que já as utilizaram antes de nós. Dessa forma, o encontro com o outro — seja ele um indivíduo, uma cultura, ou uma ideia — sempre passa por um conjunto de significados sociais e históricos que moldam a nossa percepção.

O contexto sócio-histórico e as relações que estabelecemos com o outro produzem efeitos aprofundados em nossa subjetividade. As experiências de encontros e desencontros com o outro não apenas revelam as peculiaridades das relações interpessoais, mas também definem as possibilidades de nossa própria identidade. Nesse sentido, a subjetividade não é um dado estático, mas um processo contínuo de negociação e construção, que ocorre na interação constante com o outro e com o mundo ao redor.

Referências:

BAKHTIN, M. The Dialogic Imagination: Four Essays. Austin: University of Texas Press, 1981.
BAKHTIN, M. Toward a Philosophy of the Act. Austin: University of Texas Press, 1993.
RICOEUR, P. Time and Narrative. Vol. 1. Chicago: University of Chicago Press, 1984.




Felipe Aguiar
34 anos de idade, 28 de Fé Cristã. Mestre em Letras – Linguística. Bacharel em Letras – Inglês / Literaturas. Licenciatura em Letras – Português / Inglês. Graduado em Gravação e Produção Fonográfica. Técnico em Processamento de Dados. Livros Publicados: 2015 – “Coração Poeta: Pequenas doses de poesia para pensar na vida”. 2013 – “Trazendo à Terra as Canções do Céu”.

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