A Nutrição é uma ciência, e como tal, levanta hipóteses, observa fenômenos e estuda as relações entre alimento, indivíduo, saúde, doença, e contexto. Apesar da definição do termo ciência ser de complexa discussão (como abordado na edição anterior), alguns estudos evidenciam que essas relações entre o alimento e a saúde ainda são estudadas de maneira reducionista na atualidade.
A visão reducionista é caracterizada pelo “nutricionismo” (junção dos termos nutrição e reducionismo), termo cunhado pelo cientista australiano Gyorgy Scrinis (2014). O nutricionismo tem influência biologicista e caracteriza-se pela priorização do nutriente e de alimentos que possuem alguma funcionalidade benéfica para o corpo humano. É uma abordagem reducionista do alimento e do ato de se alimentar. Neste contexto, prioriza-se o glúten free, low carb etc. que segundo Scrinis é um fenômeno social e cultural moldado pela indústria alimentícia. O autor menciona: “Existem outros motivos pelos quais comemos o que comemos”.
Outro aspecto que pode ser considerado reducionista, refere-se à valorização do controle do comportamento alimentar como busca pela “solução” dos problemas que envolvem a nutrição (Klotz-Silva; Prado; Seixas, 2016). A alimentação não pode ser simplificada, visto que envolve a complexidade da vida e do ser humano, seus símbolos sociais, políticos, religiosos e estéticos. Ademais, a simplificação das partes não pode explicar o todo.
Os atendimentos clínicos realizados atualmente, permanecem com a centralidade de poder no profissional nutricionista (Foucault, 2014), com o objetivo de “ensinar a alimentação ideal” a partir de padrões previamente estabelecidos. Desta forma, como mencionado por Villela e Azevedo (2021), a estratégia é o adestramento do corpo com uma ação de suposta liberdade. As práticas tornam-se desumanizadas e fragmentadas.
De acordo com o atual cenário, não há uma nova prática. Se de fato entende-se que existe uma necessidade de novas práticas para o cuidado, faz-se necessário um novo olhar para as práticas da Nutrição, pensar em novas possibilidades e questionamentos para as abordagens utilizadas; talvez partindo-se do cuidado de si, para assim pensar no cuidado do outro.