:: EDIÇÃO 016 :: Design Gráfico

O PROCESSO DE CRIAÇÃO GRÁFICA E A RELAÇÃO COM O SUJEITO-CLIENTE FRENTE AO NOVO

No campo do design gráfico, o ato criativo pode ser concebido como um diálogo ontológico entre as expectativas do sujeito-cliente, a mensagem a ser veiculada e as tecnologias contemporâneas que mediam esse processo. Nesse sentido, a criação visual não é meramente uma resposta técnica, mas a construção de um olhar interpretativo que integra a historicidade, as vivências e a materialidade do projeto. Cada ato de criação evoca um estado de representação do mundo circundante, e o designer se encontra, nesse contexto, como mediador entre o sensível e o inteligível, em um jogo de significações múltiplas.

O uso do termo sujeito-cliente reflete numa abordagem crítica que reconhece o cliente como um sujeito inserido em um contexto sócio-histórico-cultural, mas também como um agente ativo dentro de uma relação ideológica social-econômica. No capitalismo, a contratação de serviços, como o Design Gráfico, não se limita a somente uma transação econômica; envolve também uma dinâmica de mapeamentos e alinhamentos entre cliente e o prestador de serviço, onde o cliente participa do processo de criação do que representa a “peça” criada. A relação construída tem seus efeitos no resultado e acabamento dos serviços.  

A demanda trazida pelo sujeito-cliente emerge de uma trama, onde os elementos que constituem sua visão de mundo são perpassados por camadas de subjetividade. A apreensão dessa complexidade pelo designer exige um esforço hermenêutico, no qual o sentido deve ser desvelado a partir das múltiplas perspectivas e do caráter temporal dos eventos que circunscrevem o sujeito-cliente. Assim como em uma descrição fenomenológica, cada projeto é permeado por nuances que transcendem a objetividade pura, enraizando-se nas vivências do outro. A linguagem visual, então, não é estática; é um campo de multiplicidade e intersubjetividades institucional e pessoal que são moldadas pelas particularidades de um tempo e espaço de quem o convoca.

Entretanto, um dos grandes desafios reside na dialética entre o desejo criador do designer e a necessidade de fidelidade à mensagem do cliente. Como sujeito de sua própria historicidade e intencionalidades, o designer carrega consigo uma carga de experiências e desejos estéticos que, muitas vezes, tensionam com as expectativas e demandas externas. A criação gráfica, portanto, se dá na fronteira entre o eu e o outro, exigindo uma constante autocrítica. Esse processo envolve uma ética da alteridade, onde o designer deve reconhecer e respeitar a alteridade do cliente, sem se deixar subjugar pelas suas próprias inclinações subjetivas.

No que tange à utilização das tecnologias, estas se apresentam como instrumentos de mediação, capazes de ampliar o horizonte das possibilidades criativas. A técnica deve ser pensada como um meio que possibilita o desdobramento da mensagem de maneira mais eficaz. Se o designer se entrega incondicionalmente à técnica, corre o risco de obliterar a essência do projeto, transformando a criação em uma resposta meramente técnica, dissociada da profundidade reflexiva que o ato comunicativo exige.

Referências:
BAUMAN, Z. (1999). O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar.
BEST, Kathryn. Fundamentos de Gestão de design. Bookman Editora, 2012.
BONSIEPE, G. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Edgard Blucher, 2011.
CONSOLO, Cecilia. Anatomia do Design: uma análise do design gráfico brasileiro. Editora Blucher, 2009.
GRUSZYNSKI, Ana Cláudia. Design gráfico, tecnologia e mediação. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (22.: 1999: Rio de Janeiro).[Anais..]. Rio de Janeiro: Intercom, 1999. 1999.
LIPOVETSKY, G., & SERROY, J. (2015). A Estetização do Mundo: Viver na Era do Capitalismo Artista. São Paulo: Companhia das Letras.
ONO, Maristela Mitsuko. Desafios do design na mudança da cultura de consumo. SIMPÓSIO PARANAENSE DE DESIGN SUSTENTÁVEL, I, Curitiba, p. 87-91, 2009.



Daniel Peregrina
41 anos de vida e Fé Cristã. Bacharel em Direito. Pós-Graduado em Gestão e Coordenação de Ensino. Pós-Graduado em Psicopedagogia com Aperfeiçoamento de Docência. Bacharelando em Arquivologia. Há 19 anos atuando no mercado de comunicação Visual (Identidade Visual, Design Digital e Design Gráfico).

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