:: Edição 009 :: História

HISTÓRIA, MÉTODOS E DESAFIOS DA CULTURA DIGITAL

Uma impressão parece estar gradualmente se colocando em algumas esquinas acadêmicas das ciências humanas: a credibilidade e a praticidade dos discursos desse campo estão postas à prova. Uma das razões apontadas que faz certo sentido são as mudanças sociais e tecnológicas, principalmente a consolidação das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s) como espaços de vivência, informação, troca e compartilhamento de dados. 

O impacto da conectividade causado pela internet ainda não foi de todo calculado ou medido pelos campos do saber. Cada vez mais se impõe não apenas o seu manuseio e a mobilidade a partir dos seus recursos, mas a compreensão das possibilidades e, principalmente, os desafios proporcionados por um universo que se cria mediante rápidas e constantes transformações.1JUNIOR; RAMOS. Narrativas históricas na tecnosfera: a responsabilidade de ensinar História através da internet. In: FRONZA, Marcelo; JUNIOR, Osvaldo (orgs). Ensino de História e internet: aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021; pp. 13-35 Como um espaço de produção de sentidos, portanto, discute-se hoje na História sobre o seu papel na produção e compartilhamento de narrativas históricas nesse universo de inúmeras presenças vistas como “concorrência”, a saber, as vozes que não são reconhecidas neste lugar social da produção que se coloca como científica. A busca por respostas e acessos rápidos na internet acerca de assuntos que mobilizam e/ou se apropriam do passado fez com que debates fossem fomentados sobre quais os caminhos poderiam ser trilhados em relação à pesquisa e ao ensino de história em tempos de web. 3.0 que se direciona para a web 4.0, mesmo com certo atraso ou delay sistêmico na academia e nos campos da educação.

Alguns movimentos parecem se dirigir diante dessas problemáticas, como a construção da chamada História Pública, que, ainda em formação, não possui uma agenda única, mas alguns pontos em comum. Entre eles está não só o entendimento do objetivo de maior acesso dos conteúdos históricos do ponto de vista da divulgação e compartilhamento, mas também o maior contato com o que se produz e se enuncia como de interesse dos públicos, e o seu envolvimento na produção do próprio conhecimento.2CARVALHO, Bruno Leal P. História Pública e redes sociais na internet: elementos iniciais para um debate contemporâneo. In: Revista Transversos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 7, set-2016.

Fruto também desse mapeamento, outro movimento ainda em construção inicial é a proposta metodológica do letramento histórico-digital, que reconhece os desafios impostos pelos espaços criados pela internet, principalmente as redes sociais, mas que também a enxerga como benéfica à produção de pesquisa e ensino através da cultura digital e a sua produção de sentidos. Seus interlocutores defendem a colocação da internet num plano para além de um mero recurso ao buscar uma espécie de articulação entre investigação histórica, método histórico e tecnologias digitais, visando a construção de habilidades históricas e digitais simbioticamente para a interferência no cotidiano atravessado por algoritmos e mediações.3SILVA, Danilo Alves. Letramento histórico-digital e o ensino de história. In: FRONZA, Marcelo; JUNIOR, Osvaldo (orgs). Ensino de História e internet: aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021; pp. 36-50.

Tratam-se de tentativas e trajetórias ainda em curso que são oriundas das rupturas e transformações próprias do movimento histórico e da própria historicidade da História e seus agentes, pois como diz Lucien Febvre: “A história é filha de seu tempo”.

Referências Bibliográficas

[1] JUNIOR; RAMOS. Narrativas históricas na tecnosfera: a responsabilidade de ensinar História através da internet. In: FRONZA, Marcelo; JUNIOR, Osvaldo (orgs). Ensino de História e internet: aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021; pp. 13-35
[2] CARVALHO, Bruno Leal P. História Pública e redes sociais na internet: elementos iniciais para um debate contemporâneo. In: Revista Transversos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 7, set-2016.
[3] SILVA, Danilo Alves. Letramento histórico-digital e o ensino de história. In: FRONZA, Marcelo; JUNIOR, Osvaldo (orgs). Ensino de História e internet: aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021; pp. 36-50. 




Hiago Fernandes
27 anos de vida e Fé Cristã. Mestrando em História Social no Programa de Pós-graduação da UERJ e graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É pesquisador e atua como membro do Grupo de Trabalho do JIIAR (Grupo de Pesquisa Justiças e Impérios Ibéricos de Antigo Regime-CNPq/UFF/PPGHS-UERJ) e do Laboratório de História Regional e Patrimônio (LAHIRP). Atua como coordenador técnico do Seminário Permanente Internacional Cidades e Impérios: dinâmicas locais, fluxos Globais (CIES-Iscte/UFF/Universidade do Minho).

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